Cuba salienta a posição unitária contra o bloqueio no encontro de Cartagena de Índias

Na assembleia de Cartagena de Índias ficou demonstrado que existe um abismo crescente entre “Nossa América” martiana e o “Norte revolto e brutal que nos despreza”, assinala um comunicado do Governo de Cuba que hoje publica o diário Granma.

O documento refire-se a revolta dos convocados contra o bloqueio, a exclusão de Cuba e as Ilhas Malvinas, e recomenda ao presidente Obama que nao aconselhe democracia a Cuba. “Ainda menos –acrescenta- se quem pretendeu fazê-lo esteve ali totalmente isolado, obrigado a exercer um veto imperial, por falta de ideias e de autoridade política e moral; enquanto se dedica à demagogia, rumo a umas eleições escabrosas: melhor, deveria ocupar-se de suas guerras, crise e politiquice; de Cuba, ocupámo-nos os cubanos.

Cuba salienta a posição unitária contra o bloqueio no encontro de Cartagena de ÍndiasNo comunicado titulado “Pela segunda independência”, o Governo acusa ao Estados Unidos de negar-se a debater sobre as terríveis consequências para a América Latina e o Caribe do neoliberalismo nem sobre os imigrantes nos Estados Unidos e Europa, separados de suas famílias, retornados cruelmente ou assassinados em muros como o do Rio Bravo e tampouco aceitaram jamais falar dos pobres, que são metade da humanidade.

Declaração do Governo Revolucionário

PELA SEGUNDA INDEPENDÊNCIA

Na Colômbia, Cartagena de Índias, ficou demonstrado que existe um abismo crescente entre “Nossa América” martiana e o “Norte revolto e brutal que nos despreza”. Lá, teve lugar uma rebelião da América Latina e o Caribe contra a imposição de “um governo e meio”, que exercia um veto imperial aos parágrafos do projeto de Declaração Final da chamada Cúpula das Américas, os quais exigiam o cessar do bloqueio e da exclusão de Cuba dos eventos hemisféricos.

Desde a Cúpula de 2009 desfizeram-se as ilusões sobre a política do presidente Barack Obama, abriu-se uma fenda entre seus discursos e seus atos, não houve mudanças na política contra a América Latina e o Caribe, o bloqueio a Cuba continuou e, inclusive, acirrou-se no setor financeiro, apesar da condenação internacional e do voto esmagador da Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de “provocar fome, desespero e o colapso do governo”, o que agora se conhece como “mudança de regime”.

A ALBA se reuniu em 4 de fevereiro passado, em Caracas, por ocasião de se comemorar a heróica revolta cívico-militar de 1992, aprovou uma Declaração acerca da soberania argentina sobre as ilhas Malvinas, outra sobre o bloqueio e considerou injusta e inaceitável a exclusão de Cuba destes eventos. O presidente Rafael Correa afirmou que, caso não se resolvesse esta questão, o Equador não participaria da Cúpula de Cartagena, afirmação que abalou a região.

Essa valente posição foi o prelúdio do acontecido.

Nessa reunião, o presidente Raúl Castro expressou: “Eu quero agradecer aos senhores, ao presidente Rafael Correa, a Evo Morales e demais presidentes estes pronunciamentos… Este é um tema muito importante, têm toda a razão. Nós jamais temos exigido que se tome uma medida como essa, mas nem por isso vamos deixar de apoiar esta, que consideramos muito justa”.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Sánchez, que nos visitou, de maneira respeitosa, e recebeu como resposta do presidente Raúl Castro que Cuba, caso ser convidada, participaria, como sempre, com muito respeito, apego aos princípios e à verdade, teve o mérito de expor diretamente o tema do bloqueio e a exclusão de Cuba.

O presidente Evo Morales, que tinha sido o primeiro em questionar a referida Cúpula, nessa reunião de fevereiro da ALBA, em Caracas, afirmou em Cartagena: “Estamos numa etapa de desintegração. Não é possível que um país possa vetar a presença de Cuba; portanto, não há integração e com a ausência do Equador, como uma ausência justa, em protesto pelo veto dos EUA contra Cuba, de que integração estamos falando?

Em 13 de abril passado, o presidente Hugo Chávez expressou: “agora, com certeza, se estes dois governos, os Estados Unidos e o Canadá, se negam a discutir temas tão profundamente consubstanciados, como o da América Latina e o Caribe, como o tema de Cuba, da irmã Cuba, da solidária Cuba, ou o tema das Ilhas Malvinas, para quê mais Cúpulas das Américas então?, haveria que terminar com essas Cúpulas . Anteriormente, tinha escrito: “Também clamamos pelo fim do vergonhoso e criminoso bloqueio contra a irmã República de Cuba: bloqueio que, há mais de 50 anos, o império exerce com crueldade e sevícia, contra o heróico povo de José Martí”.

Daniel Ortega, num ato de solidariedade com Cuba, em 14 de abril, em Manágua, afirmou: “Acho que é o momento de o governo dos Estados Unidos escutarem todas as nações latino-americanas das mais diversas ideologias, dos mais diversos pensamentos políticos; desde os pensamentos mais conservadores até os mais revolucionários, mas eis aí todos, coincidindo em que Cuba tem que estar presente nestas reuniões ou não haverá próximas Cúpulas, chamadas ou mal-chamadas das Américas”.

Foi impressionante a sólida posição unitária da Nossa América sobre o bloqueio, a exclusão de Cuba e as Ilhas Malvinas. Foi essencial a firmeza e dignidade da presidenta da Argentina, na defesa enérgica dessas causas.

Sentimos muito orgulho quando a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, defendeu com dignidade ante Obama, que a Pátria Grande somente pode ser tratada como igual e confirmou a posição comum de apoio a Cuba e à Argentina.

Os líderes dos países do Caribe mostraram a solidez da Comunidade do Caribe (Caricom), demonstrando que esta e a América Latina são igualmente indivisíveis. Sua defesa da soberania argentina sobre as ilhas Malvinas e seu tradicional e categórico apoio a Cuba foi muito importante.

As forças da esquerda, os movimentos populares, as organizações sindicais, juvenis e estudantis, as organizações não-governamentais, reunidas no Congresso dos Povos, em Cartagena, expressaram emotiva solidariedade a Cuba. A reunião interparlamentar das Américas aprovou uma declaração que condena a exclusão e o bloqueio ao nosso país.

Os Estados Unidos subestimaram que, em 2 de dezembro de 2011, em Caracas, por ocasião do bicentenário da independência, sob a liderança de Hugo Chávez, no 55º aniversário do desembarque do iate Granma, tinha nascido a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), o que o líder da Revolução, Fidel Castro antecipara, em fevereiro de 2010, quando escreveu que “nenhum outro fato institucional do nosso hemisfério, durante o último século, reflete similar transcendência”.

Quando nessa primeira Cúpula Cuba foi eleita presidenta da Celac, em 2013, o general-de-exército Raúl Castro Ruz declarou: “com as decisões que aqui adotamos e com o trabalho em parceria, dos últimos três anos, reivindicamos mais de dois séculos de lutas e esperanças. Chegar tão longe nos custou esforço, mas também sangue e sacrifício. As metrópoles coloniais de outrora e as potências imperialistas de hoje têm sido inimigas deste empenho”.

Obama tampouco parece entender o significado da vitória bolivariana de 13 de abril de 2002 nem que, precisamente agora, se completam dez anos do golpe de Estado, organizado por seu predecessor, com o apoio da OEA e do governo espanhol de José Maria Aznar, contra o presidente Hugo Chávez, com o qual pretenderam aniquilar a Revolução bolivariana e assassinar seu presidente. Como expressou o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, fitando aos olhos de Obama, em memorável discurso na Cúpula de Cartagena, o governo norte-americano persiste na ideia de intervir nos assuntos internos da Venezuela e de apoiar os golpistas, que agora viraram candidatos eleitorais.

O presidente Obama deveria entender que a Cúpula de Cartagena não foi propícia para aconselhar democracia a Cuba. Ainda menos se quem pretendeu fazê-lo esteve ali totalmente isolado, obrigado a exercer um veto imperial, por falta de ideias e de autoridade política e moral; enquanto se dedica à demagogia, rumo a umas eleições escabrosas. Melhor, deveria ocupar-se de suas guerras, crise e politiquice, que de Cuba, nos ocupamos os cubanos.

Os Estados Unidos jamais quiseram debater sobre as terríveis consequências para a América Latina e o Caribe do neoliberalismo nem sobre os imigrantes nos Estados Unidos e Europa, separados de suas famílias, retornados cruelmente ou assassinados em muros como o do Rio Bravo. Tampouco aceitaram jamais falar dos pobres, que são metade da humanidade.

O império e as outrora metrópoles coloniais não escutam os “indignados”, seus cidadãos e minorias que vivem na pobreza nessas sociedades opulentas, enquanto salvam com avultadas somas banqueiros corruptos e especuladores. Na superpotência, 10% das famílias controla 80% da riqueza. Esses recursos são suficientes para resolver os problemas do planeta.

A novidade em Cartagena é que boa parte dos governos, com diferenças naturais e pontos de vista diferentes, exigiram um modelo alternativo que privilegie a solidariedade e a complementariedade, ante a concorrência com base no egoísmo; que procure a harmonia com a natureza e não o saque dos recursos naturais nem o consumismo desenfreado. Exigiram que se garanta a diversidade cultural e não a imposição de valores e estilos de vida alheios a nossos povos; que se consolide a paz e que se repudiem as guerras e a militarização.

Fizeram um chamamento para recuperar a condição humana das nossas sociedades e para construir um mundo onde se reconheça e respeite a pluralidade de ideias e modelos, a participação democrática da sociedade nos assuntos do governo, incluída a consulta das políticas econômicas e monetárias; para combater o analfabetismo, a mortalidade infantil e materna, as doenças curáveis. Foi exigido o acesso à informação livre e veraz, o acesso à água potável; reconheceu-se a exclusão social e que os direitos humanos são para o exercício de todos e não para utilizá-los como arma política dos poderosos.

Desta vez, o governo dos EUA teve que escutar, não uma voz quase única, como aconteceu durante décadas, nem uma escassa minoria, como até há pouco, Agora foram maioria os povos que falaram na Cúpula, representados por seus presidentes e chefes de delegações, para oferecer este debate imprescindível, ou através da atitude dos que não foram. A Cúpula teve que ser censurada porque o império escuta com ouvidos moucos.

Em Cartagena ficou a nu a doutrina Monroe de “América para os (norte) americanos”. Como se ninguém lembrasse o engano da Aliança para o Progresso, em 1961, e da Iniciativa para as Américas ou ALCA, em 1994; agora querem enganar-nos com a “Aliança Igualitária”.

Como prognosticou, num evento internacional, em Cartagena, em 14 de junho de 1994, o comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz, as chamadas Cúpulas das Américas somente têm beneficiado o Norte.

José Martí, quando julgou uma reunião similar, em Washington, há 105 anos, escreveu: “depois de ver com olhos judiciais os antecedentes, as causas e fatores do convite, urge dizer, porque é a verdade, que tem chegado para a América espanhola a hora de declarar sua segunda independência”.

Durante o próprio evento, a ALBA tornou oficial e público que, sem uma mudança radical da natureza destas Cúpulas, não assistirá mais. Outros líderes continentais, também advertiram.

Quanto à OEA, esse cadáver insepulto, não há nada que falar.
A República Argentina tem o direito inalienável de soberania sobre as Ilhas Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich do Sul e os espaços marítimos circundantes.

Cuba lembra que a Pátria Grande não estará completa até que o irmão povo portorriquenho exerça seu direito à autodeterminação e Porto Rico, essa nação latino-americana e caribenha, submetida pelos Estados Unidos ao colonialismo, atinja sua total independência.

Com um sólido consenso de soberania regional e defesa de nossa cultura, dentro de nossa rica diversidade; com quase 600 milhões de habitantes; com enormes recursos naturais; Nossa América tem uma chance para resolver os graves problemas de extrema desigualdade na distribuição da riqueza e pode, com sua força, evidente, contribuir para “o equilíbrio do mundo”, para a defesa da paz e para a preservação da espécie humana.

Para isso, ante as tentativas de dividir-nos, necessitará manter-se unida.

Ninguém esqueça no Norte, que há 51 anos, o povo cubano defendia, a estas mesmas horas, uma Revolução Socialista nas areias ensanguentadas de Praia Girón, e que, a partir desse momento, “todos os povos da América foram um pouco mais livres”.

Havana, 18 de abril de 2012

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