“Qual será o destino dos países balcanizados da nossa América” (Fidel en 1990)

Enrique Ubieta

Nossa América vive dias intensos. Não há razão nem tempo para desânimo. Os povos do continente abriram as grandes alamedas da sua emancipação, e o imperialismo não pode fechá-las. Bolívar, Martí, Sandino, apontaram o caminho para a unidade. «Quanto tempo permaneceremos na letargia»?, perguntou Fidel em 1959, durante sua visita a Caracas. «Por quanto tempo seremos peças indefesas de um continente cujo libertador o concebeu como algo mais digno, maior? Por quanto tempo os latino-americanos viverão nessa atmosfera cruel e ridícula? Quanto tempo permaneceremos divididos?»

Médicos cubanos levam saúde, bem-estar e esperança ás regiões mais humildes e esquecidas da América Latina e do Caribe.

Desde a sua formação, nos anos 40, Fidel esteve envolvido nas reivindicações de justiça mais prementes da região: a independência de Porto Rico e a derrubada do ditador Trujillo na República Dominicana, entre outras, e viveria ao lado do povo colombiano os eventos que a história de hoje reúne como O Bogotazo.

Sua visita à Venezuela, poucos meses após o triunfo revolucionário, seria premonitória. Ali disse, com relação à necessária unidade de nossos povos: «E quem deve ser o proponente dessa ideia? Os venezuelanos, porque os venezuelanos a propuseram ao continente latino-americano, porque Bolívar é filho da Venezuela e Bolívar é pai da ideia de união dos povos da América».

Mas Fidel não estava se referindo apenas à unidade interna dos povos, indispensável ao triunfo da justiça, mas à unidade entre as nações do continente, embora soubesse que haveria governos de «sem força e sem fé em suas terras, dispostos a entregar a riqueza coletivas e os desejos populares aguardando recompensas pessoais indignas.

Por isso, em muitas ocasiões, Fidel tentou mostrar as vantagens da união, respeitando a diversidade de modelos e identidades socioeconômicas. «Qual é o destino, além disso, dos países balcanizados da nossa América? Que lugar eles ocuparão no século XXI? Que lugar lhes vão deixar, qual será o papel deles se não se unirem, se não se integrarem?», insistiu em 1990.

Nos últimos anos da década de traições e desespero, Fidel relançaria o internacionalismo médico cubano (nascido na Argélia, em 1963), para os povos da América Central e do Haiti – onde não havia governos ideologicamente relacionados -, após a passagem de dois furacões devastadores: centenas de profissionais de saúde foram para os recantos mais remotos e atenderam desde então às populações mais carentes. O povo cubano ficou cara a cara, sem intermediários, com seus irmãos do continente.

Fidel sempre se reunia com cada brigada antes de sua partida, conversando com seus membros como pai. Em 25 de novembro de 1998, ele disse: «Quero enfatizar isso agora: nossos médicos não se misturam nem um pouco em questões de política interna. Serão absolutamente respeitosos com as leis, tradições e costumes dos países onde trabalham. Eles não têm a missão de propagar ideologias. (…) Vocês vão para a América Central como médicos, como portadores abnegados da saúde humana, para trabalhar nos lugares e condições mais difíceis, para salvar vidas, preservar ou restaurar o bem-estar da saúde e exaltar e prestigiar a nobre profissão do médico; nada mais».

Naquele ano, um discípulo de Bolívar chegaria à presidência da Venezuela. Dois sonhadores, dois doidos com bom senso, Fidel e Chávez, se encontrariam, no esforço de contribuir para a unidade necessária. Nasceu ALBA, o projeto de unidade mais avançado que existia em nosso continente, um acordo cuja base estava no povo, em sua infinita capacidade de solidariedade. Centenas de milhares de latino-americanos tiveram saúde, educação, visão recuperada, dignidade. Nossa América, um conceito martiano que também inclui as ilhas do Caribe, foi então maior, porque soube olhar para dentro e juntar-se, complementar-se em projetos comuns. O imperialismo hoje tenta desmantelar essas conquistas, que tanto teme. É bom lembrar, na véspera do terceiro aniversário da partida física do Comandante-em-chefe Fidel Castro, o homem que dedicou sua vida à defesa da unidade dos povos e nações da América Latina.

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